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Daniel Bovolento e a relação entre cidade e escritor


Escrito por Motorola

Sair por aí, descobrir novos lugares e talvez se perder. Observar pessoas, gestos, hábitos, seus encontros e desencontros numa grande cidade. Por fim, transformar tudo isso em palavras. Quando o escritor Daniel Bovolento trocou o calor do Rio de Janeiro pelo ritmo vertiginoso de São Paulo, ele sabia muito bem o que queria encontrar: boas histórias.

Autor de dois livros (Por Onde Andam as Pessoas Interessantes? e Depois do Fim), redator e produtor de conteúdo, Daniel é um ótimo observador do comportamento humano. E é a partir do olhar sobre a cidade e as pessoas que conversamos com ele. Confira.

Hellomoto: Daniel, por onde andam as pessoas interessantes de São Paulo?

Daniel Bovolento: Elas estão nas saídas de metrôs, nas filas dos cafés lotados, na Paulista fechada aos domingos e em muitas histórias que a gente viveu. Tem gente interessante pra tudo que é gosto, do hype ao descolado escondidinho de bairros como Pinheiros e Vila Madalena. O grande lance é perceber como ambientes tão diferentes podem ser interessantes de acordo com o nosso momento de vida e humor, principalmente quando esperamos encontrar possibilidades no dia a dia.

HM: Como um ambiente urbano e intenso como o de SP influencia a sua vida de escritor?

DB: São Paulo reformulou completamente a minha escrita. Antes, as paisagens que eu descrevia eram pautadas na boêmia e natureza do Rio de Janeiro. Aqui, os conflitos são ambientados de outra maneira. A cidade tem muito ruído, em todos os sentidos. São espaços de comunicação preenchidos por figuras urbanas – ou lugares – que dão sentido ao cotidiano das pessoas. A Rua Augusta não é só uma rua, mas um lugar que diz muito sobre quem passa por ali, o que procura, o tipo de pessoa que é, como ela se relaciona com o mundo. São muitas coisas para olhar, refletir, admirar e falar sobre. De forma caótica. Ainda assim, chega a ser poético.

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Livro – Depois do Fim – Autor: Daniel Bovolento

 

HM: Existe um lugar especial na cidade que faz você se inspirar para escrever?

DB: Eu gosto muito de cafés. Acho que é um espaço que inspira criatividade, porque tudo mundo está ali para fazer alguma coisa. Espaços de convivência rápidos assim me dão vontade de reparar no que as pessoas falam, como se vestem, qual é a história por trás da escolha das bebidas e dos pratos, quem elas esperam, quem estava ocupando a cadeira vazia da frente e as relações que vão se desenhando disso. Escrevi meu segundo livro inteiro numa cafeteria, no meio do barulho, salvo às vezes só por fones de ouvido. Além disso, quando quero pensar, vou ao terraço do MAC USP em um dia de semana e aproveito a vista para me afastar um pouco da realidade.

HM: Você acredita que a tecnologia, como o uso de smartphones, afastou ou aproximou as pessoas?

DB: Depende do ponto de vista. Relações mais próximas podem ser abafadas por smartphones que, por sua vez, podem conectar pessoas a outras que estão mais longe. Eu acredito muito que a tecnologia reflete o comportamento humano – e o contrário também é válido. Mudamos todos juntos. Se não tivéssemos essas opções ao nosso alcance, encontraríamos outra forma de comunicação (e distração). No geral, acho que a tecnologia tem o poder de amplificar os nossos desejos. Se quisermos, ela pode servir para nos colocar cara a cara com as pessoas que realmente importam na nossa vida.

HM: Depois do fim de uma história, qual o melhor programa para fazer em SP para renovar as energias?

DB: Eu gosto de ver o pôr-do-sol em algum lugar alto, abrir um vinho num restaurante ou tomar um drink – gin tônica, de preferência – para aliviar as tensões e ter aquele fim de dia com cara de final de filme, sabe? O pôr-do-sol no Ibirapuera, no terraço do instituto Tomie Ohtake e no Mirante 9 de Julho são incríveis. Destaco as variedades de Gin Tônica do 1101 Bar e do Subastor. Se quiser algo mais descolado, eu adoro o Calçadão Urbanóide na Rua Augusta, que tem comidas e bebidas para todos os gostos e bolsos também. Mas o mais importante de tudo é a companhia que a gente escolhe para ir a esses lugares. São elas, na maioria das vezes, que vão criar uma lembrança forte o bastante para gerar uma conexão bonita com o lugar que estamos.

Quantas coisas interessantes podem existir em uma cidade, não? Esperamos que essa entrevista com o Daniel te inspire a encontrar novos lugares e maneiras de se relacionar com o espaço público, seja para criar, para se divertir ou simplesmente apreciar uma bela vista.

Para saber mais sobre como se reconectar com a cidade, acompanhe o conteúdo  #hellocidades no hub Hellomoto.

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