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Recife mal-assombrado


Escrito por Abril BrandedContent

Conheça as pessoas que mantém vivas as lendas urbanas bizarras e aterrorizantes da cidade

Ilustração: Roberta Cirne. Legenda: Boca de Ouro, aqui em ilustração de Roberta Cirne, é um dos monstros mais famosos do Recife.

Já ouviu falar da Perna Cabeluda, do Boca de Ouro ou da Emparedada da Rua Nova? Com 480 anos, a capital pernambucana já passou por muita coisa e suas ruas, casarios e até teatros têm muitas histórias de todo o tipo para contar – até mesmo as mal assombradas. Inspirado nessas lendas, o escritor, sociólogo e antropólogo Gilberto Freyre lançou, na década de 1950, o livro “Assombrações do Recife Velho”. A obra, com 27 histórias d’outro mundo, é considerada referência e fonte de pesquisa sobre os relatos assombrados do Recife. Hoje, mais de 60 anos depois, as histórias continuam assustando recifenses cidade afora. Explorar o lado assombrado da cidade é uma oportunidade para vivenciá-la de uma maneira incomum, como propõe o projeto #hellocidades, de Motorola. Basta que essas histórias assombradas se espalhem e que cada vez mais pessoas as conheçam.

O escritor e roteirista André Balaio, 49 anos, é um desses caça-fantasmas que descobrem, pesquisam e mantêm vivas as assombrações do Recife velho – e do novo também. Fã dos mistérios em torno da Perna Cabeluda – lenda dos anos 70 que fala sobre uma perna cabeluda que ataca e amedronta as pessoas na cidade -, criou, junto ao jornalista Roberto Beltrão, o site Recife Assombrado, que está no ar há 17 anos.

“Na virada dos anos 80 para 90, eu e alguns amigos começamos a nos interessar pelas histórias de assombrações do Recife. Começamos a fazer expedições pelos lugares relatados por Freyre no livro, a pesquisar por notícias de jornal no Arquivo Público – já que não havia Internet como conhecemos hoje -, a entrevistar pessoas, a procurar outros livros, a visitar lugares ditos assombrados… viramos ‘caça-fantasmas’”, recorda Balaio.

O Recife Assombrado começou a tomar forma ainda em 1993, como um fanzine em xérox, e a ideia de ser um jornal para falar de assombrações. Sete anos depois, em 2000, a internet já tinha força e o projeto virou site. De lá para cá, vem divulgando e estimulando o imaginário assombrado da capital pernambucana através de histórias que já viraram livros, histórias em quadrinhos, encenações teatrais, palestras em escolas e universidades e, em breve, um filme.

Ilustração: Roberta Cirne. Legenda: Histórias mal-assombradas enfeitam o imaginário popular e transformam a experiência das pessoas na cidade.

“Já participei de coletâneas de histórias de assombração, como a Histórias Medonhas d’O Recife Assombrado (Edições Bagaço, 2002, R$ 34), e como roteirista de histórias em quadrinhos, entre elas “A rasteira da perna cabeluda”, “Malassombro: assovios da mata” e “Algumas assombrações do Recife Velho”, adaptação que fizemos do livro de Freyre”, conta. “Atualmente sou roteirista do longa-metragem O Recife Assombrado, de Adriano Portela e Roberto Beltrão. O filme teve parte verba obtida através de edital da ANCINE e está em fase de produção, devendo ser lançado no ano que vem”, avisa Balaio.

Roberta Cirne, 39 anos, ilustradora, quadrinista e arte educadora também retoma as histórias da cidade mais assombrada do mundo no seu projeto e site Sombras do Recife, que traz histórias em quadrinhos roteirizadas e desenhadas pela autora, curiosidades e fatos pitorescos. Em dezembro, o Sombras do Recife lança a sua primeira revista em formato físico.

“Neste momento do projeto, estou narrando como cada monstro surge, em suas distintas épocas: Boca de ouro, em 1913; A Velha Branca e o bode Vermelho, 1885; Branca Dias, em 1598; Papa figo, em meados de 1850, e por assim em diante. Cada um terá sua história ambientada no Recife das épocas, com seus usos e costumes, roupas, ruas, etc. É uma pesquisa feita em mais de 100 fontes literárias, e não apenas um livro e adaptação. Quero recriar o passado”, revela.

Especialista, Cirne revela as suas lendas assombradas preferidas: o Boca de Ouro, o Papa-figo e a Emparedada da Rua Nova. “A história em quadrinhos que fiz sobre Boca de Ouro, com 18 páginas, foi a porta de entrada para que houvesse um interesse do público pelo site”, lembra a quadrinista.

“Ele é um condutor de bonde de burro no Recife de 1913, que está passando pelas reformas e mudanças de transportes urbanos. Humilde e com os dentes estragados, sonha em ficar com a mulher que ama, mas que é casada. Ele é demitido e resolve entrar para o jogo do bicho, que acabou de chegar na cidade. Torna-se o maior bicheiro do Recife, coloca uma dentadura de ouro e casa-se com a mulher amada, após assassinar o esposo dela. O que ele não sabe é que a história tomará um rumo inesperado e terrível.”

Rota assombrada

Para conhecer melhor os lugares assombrados do Recife, André Balaio indica um roteiro que passa pela Cruz do Patrão – no Porto do Recife –, pelo casario da Rua da Aurora, que tem histórias macabras como a da debutante que morreu na própria festa de 15 anos ao descer a escadaria da antiga sede do Clube Internacional (onde hoje fica o Museu de Arte Moderna Aloízio Magalhães), e o Teatro de Santa Isabel que “tem histórias deliciosas como a da bailarina que ainda hoje é vista por funcionários dançando no palco”.

Já Roberta Cirne sugere os entornos do Cemitério de Santo Amaro, onde está o túmulo da Menina Sem Nome e por onde a Galega de Santo Amaro ataca os homens que seduz, levando-os até o seu túmulo; o Sítio da Trindade, que guarda recordações de batalhas sangrentas do período holandês; e os bairros de Casa Forte, Poço da Panela e Apipucos, margeando o Açude do Prata, onde, segundo a lenda, Branca Dias jogou sua prataria para fugir de perseguidores religiosos e, mais tarde, voltou como fantasma para não deixar ninguém se apropriar do que era dela.

Quando for fazer o seu roteiro assombrado, não esqueça de tirar uma selfie com a Perna Cabeluda e usar a hashtag #hellocidades. Reconecte-se com o fantástico do Recife através do hellomoto.com.br.

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