Conversamos com Nicole Balestro e Don Cesão sobre o trabalho de alta qualidade que o coletivo vem realizando
“O nome CEIA é isso, é de a gente dividir. Eu estou comendo aqui e eu estou partilhando com o meu amigo toda a minha refeição, é todo mundo igual. Significa aquela coisa do momento onde todo mundo é a mesma coisa ali, tá ligado? Esse nome tem esse significado, de partilha.”
Foi assim que Don Cesão apresentou o CEIA Ent., selo de hip hop criado há um ano e meio pelo rapper e Nicole Balestro, empresária, diretora artística e sua mulher. Nascidos e criados em São Paulo, ele na Casa Verde e ela no Cambuci, o casal recebeu em sua casa a equipe do Hello Moto, que estava acompanhada do moto fã Birão Ramin, que é DJ e produz a Festa Cafuá.
A CEIA nasceu dessa vontade de amplificar as ideias do hip hop e “o papel social do rap”, diz Cesão. Um movimento que nasceu em Nova York na década de 70 e chegou ao Brasil em São Paulo, no começo dos anos 80. “São Paulo é o berço. Muita coisa acontece, a cena daqui é muito grande, tem muito artista com discursos para todo tipo de público. São Paulo representa o hip hop, a rua, usar tênis, correr pra pegar o busão (sic), respira muito isso de todas as vertentes”, completa Nicole.
A empresária afirma que além de todos os artistas da CEIA terem uma relação estreita com os ideais do hip hop, além de ter esse papel de dar espaço para o negro falar, eles também quiseram trazer as mulheres para o selo “para elas terem a mesma importância dos caras, protagonismo igual ao deles”, diz. Foi assim então que convidaram Clara Lima, mineira de 18 anos, e as paulistanas Tasha e Tracie para fazerem parte do coletivo.
Além das meninas e de Cesão, os artistas Djonga, Jamés Ventura, Gustavo Treze, Febem, Pizzol e Torres fazem parte da Ceia. Um mix de nomes já conhecidos do hip hop e artistas novos, que se escolheram por uma admiração mútua. “Procuramos sair do clichê de se associar com pessoas que seriam melhor no momento por visibilidade, e optamos por tomar um caminho totalmente ao contrário, de pessoas que a gente acreditava”, diz Cesão.

Nessa trajetória ainda curta, a CEIA produziu e lançou trabalhos desses artistas separadamente, alcançando grande visibilidade com uma produção de qualidade. Em junho deste ano, eles lançaram “SOMOS”, um trabalho que contou com a participação de todos do selo e se desdobrou em um EP, uma série de videoclipes, e até o fim do ano eles saem em tour pelo Brasil. “Cada um agregou de uma forma ou de outra. A Ceia é bem essa junção, cada um tem uma visão das coisas mas ao mesmo tempo temos um denominador comum”, diz Nicole.

Sempre ligados nas tendências mundiais de arte, moda, música e streetwear, Cesão e Nicole trazem uma identidade artística para a CEIA que nada deixa a desejar para os artistas internacionais. Eles entendem que o trabalho vai além da música e passa também pela estética visual. O selo tem um canal no Youtube com quase 40 mil inscritos. O Instagram possui 50 mil seguidores. O público, na maioria jovem, está em constante interação com os artistas, que fazem questão de responder tudo.
A questão da faixa etária dos fãs também traz uma certa responsabilidade. Nicole conta que se assusta com o tamanho de influência que Cesão e os artistas da CEIA têm sobre esses jovens. O rapper enxerga isso como a possibilidade de trazer a eles reflexões sobre diversos temas, e mostrar que eles podem fazer e ser o que quiserem. “É o lance da autoestima, é isso que empodera o ser humano”, diz Nicole.

O talento e discurso consistente dos artistas da CEIA aliados a um senso de mercado apurado colocam o selo, mesmo com pouco tempo de vida, em um patamar diferente no cenário audiovisual brasileiro. Um coletivo que sabe usar da tecnologia para se aproximar do público e se destacar em uma época de muita concorrência, mas sem perder a essência da sua proposta: preservar as ideias do movimento hip hop.
