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As notas de Alex Klein


Escrito por Motorola

Saiba tudo sobre o Festival de Música de Santa Catarina

De 26 de janeiro a 4 de fevereiro, a música clássica embarca em uma viagem e vai até seu público, democratizando o acesso a essa arte tão distante da realidade cotidiana dos brasileiros. Entra em palco o FEMUSC – Festival de Música de Santa Catarina –, o maior festival-escola da América Latina e roteiro obrigatório para quem se interessa por música erudita e clássica. Como acontece todos os anos, músicos de todos os níveis profissionais, de intermediários a profissionais renomados internacionalmente, mudam-se por duas semanas para a cidade de Jaraguá do Sul – norte de Santa Catarina – e inundam as ruas da cidade com seus sons virtuosos.

A rotina, no entanto, é puxada. Durante as manhãs, os músicos têm aulas nos diversos espaços do festival. Durante a tarde, um passeio pelos corredores do teatro garante o encontro com artistas ensaiando e tentando se concentrar para o grande momento: as atrações da noite, quando os dois teatros do Centro Cultural de Jaraguá do Sul recebem diversos concertos, sempre lotados com muita antecedência. E, além desses eventos, pequenas viagens a cidades do Estado também levam música erudita em todas as suas formas para espaços alternativos, ampliando ainda mais o contato dos instrumentistas com as comunidades.


Foto: Divulgação FEMUSC/Entrelinhas Comunica.

Regendo essa grande orquestra, em sua décima segunda edição, está o maestro e oboísta Alex Klein. Vencedor do Grammy Award de 2002 como o Melhor Solista Instrumental com Orquestra, Alex conversou com a Comunidade Moto e contou um pouco sobre a história do festival, as novidades da edição 2017 e a importância da aproximação do brasileiro com a música erudita. Confira:

Comunidade Moto: Qual sua primeira lembrança envolvendo música? Como foi o início dos seus estudos de música, e em que instrumentos?
Alex Klein:
A música veio à minha vida como uma tentativa de meus pais para ensinar disciplina e concentração. Eu tinha nove anos de idade e escolhi o oboé de imediato, mas, enquanto o instrumento não chegava, estudei flauta-doce.

CM: Como nasceu o FEMUSC?
AK:
Eu havia acabado de deixar minha posição na Orquestra Sinfônica de Chicago (à qual acabo de retornar) devido a uma deficiência. A tristeza com essa perda pessoal criou em mim uma necessidade de criar um evento em que eu pudesse continuar os mesmos princípios artísticos e administrativos que experimentei naquela que é uma das grandes orquestras do mundo.

Após iniciar a ideia do festival em Curitiba, o então governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira, indicou que “era um projeto para Jaraguá do Sul”. A partir daí estabelecemos um trabalho de longo prazo, cujos benefícios regulares à cidade e ao Estado (e também ao País) estão generosamente documentados.


Foto: Divulgação FEMUSC/Entrelinhas Comunica.

CM: Quais são as novidades e as grandes atrações do FEMUSC 2017?
AK: Após anos trazendo uma programação de abertura centrada em professores e grupos orquestrais já formados, em 2017 eu tenho orgulho em mostrar ao público catarinense o altíssimo nível de audições que recebemos desses alunos.

Já o concerto de encerramento trará a Sinfonia nº 2 de Gustav Mahler, intitulada “Ressurreição”, uma das mais célebres obras do repertório sinfônico. E em 2017 apresentaremos duas óperas: teremos “A Flauta Mágica”, obra-prima de Wolfgang Amadeus Mozart, em encenação liderada por Carlos Harmuch, de Basel – Suíça, e teremos também a ópera “The Turn of the Screw”, de Benjamin Britten. Como já é tradição no FEMUSC, a “Orquestra Sem Maestro”, liderada pelo já lendário Leon Spierer (“spalla” da Orquestra Filarmônica de Berlim por 26 anos, no auge da regência do maestro Herbert von Karajan), apresentará duas aberturas sinfônicas: “O Barbeiro de Sevilha”, de Giacomo Rossini, e “Abertura do Festival Acadêmico, de Johannes Brahms.

CM: São muitas as histórias que aconteceram durante o festival, envolvendo tantas pessoas de tantos lugares diferentes do mundo. Quais são as mais marcantes?
AK: O FEMUSC já recebeu 8 mil alunos de 40 países. Invariavelmente, cada um deles traz sua história de superação, e em 2017 não será diferente. Uma história que me comove muito é a do catarinense Paulo Batschauer, estudante de violino na UDESC, em Florianópolis. O público poderá ouvi-lo no concerto de abertura do festival, no dia 26 de janeiro. É um privilégio de poucos estar no ápice da lista de violinistas que atendem ao FEMUSC. Com professores estelares, o FEMUSC a cada ano atrai entre 250 e 300 inscrições só para violino e, no passado, o aluno que esteve na ponta dessa lista foi agraciado com bolsas de estudos e admiração de professores e do público.


Foto: Divulgação FEMUSC/Entrelinhas Comunica.

CM: No Brasil ainda existem muitas barreiras para que a música erudita seja consumida pela grande massa?
AK: Não é novidade que o crescimento do País sofre, não só na economia, como também na área cultural, acadêmica e na sua participação no profundo diálogo internacional sobre a humanidade. Essa incerteza social abre também caminho para uma cultura de entretenimento em vez de uma agenda cultural que enfatize a Filosofia e questões maiores da existência humana, entre elas as Belas Artes.

É minha esperança que também os brasileiros se aproximem mais das Belas Artes, da Filosofia e do conhecimento que advém de um entendimento milenar sobre a humanidade.

CM: Quais são os artistas que você admira, fora do eixo de música erudita e clássica?
AK: Tenho prazer em me envolver com outros artistas, em geral, em outras artes, como Arquitetura, Pintura e sua expressão no desenvolvimento social. Artistas como Frank Gehry, Salvador Dalí, Zaha Hadid, Antoni Gaudí estão entre meus favoritos.

CM: E quais são os próximos planos e objetivos a serem alcançados?
AK:  Minha vida pessoal e profissional une objetivos diversos. Estou feliz em voltar à Sinfônica de Chicago. Esse retorno ocorre em direta oposição à minha condição física, como portador da Distonia Focal, uma anormalidade neurológica que chega a afetar 1% dos músicos, e da qual hoje sou porta-voz.

E é claro que eventos como o FEMUSC e o PRIMA (programa sócio-orquestral que fundei na Paraíba) mantêm meu espírito ligado ao desenvolvimento social e à triste desigualdade que assola o Brasil e, regularmente, ameaça a humanidade. Meu objetivo maior é unir todas essas vertentes: a arte, a luta pela superação pessoal e o carinho ao ser humano, em uma produtividade que melhore a vida do próximo.

Para conferir a programação do FEMUSC, acesse o site do evento: http://www.femusc.com.br

 

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