Rafael Vilela, um dos fundadores do Mídia Ninja, foi escolhido pela curadoria da Casa #hellocidades como convidado para dar uma oficina e falar um pouco sobre como é o jornalismo independente, que retrata o dia a dia das cidades diretamente das ruas, acompanhado apenas do smartphone.
Nós, do HelloMoto, fomos conversar um pouco com ele e entender como o smartphone pode ajudar a trazer notícias em tempo real, conectando o profissional com o que acontece ao seu redor de maneira rápida e fácil e até mesmo criando novos formatos para o jornalismo contemporâneo. Confira o papo!

HM – Conte um pouco pra gente como está sendo a mudança que o jornalismo está passando no jeito de produzir conteúdo nesta era digital.
RV – Eu acho que a mudança está sendo feita principalmente pelos movimentos de comunicação independente e de comunicação livre, que são esses veículos, essas organizações como a Mídia Ninja e várias outras. Mais do que o “jornalismo” está fazendo, essa mudança está sendo puxada muito por essa nova geração de comunicadores, que é muito potente e que está, na verdade, fundando uma nova forma de fazer jornalismo, que está sendo pautada pela prática, pela necessidade dessa comunicação instantânea, de a gente conseguir dialogar com o público de uma outra forma. Não é mais só produzir o conteúdo como emissor e esperar que você tenha um receptor que vá receber esse conteúdo. Eu acho que tem um novo paradigma de comunicação que está colocado nessa era digital, que é entender que todo mundo é um produtor potencial de conteúdo e um replicador também. E, mais do que tudo, que é um público ativo, não é um público que fica esperando. Ele está sempre demandando, enviando proposta, produzindo e enviando conteúdo. É uma troca, mais do que uma emissão de uma mensagem como se entendia no século XX. O século XXI traz essa necessidade da troca, em tempo real, o tempo todo, de forma muito honesta.
HM – O imediatismo das notícias se tornou mais intenso após a era da internet e dos smartphones? Se sim, por quê?
RV – Bom, acho que a possibilidade de produzir e publicar um pensamento em tempo real, ao mesmo tempo em que ele é gerado, é realmente uma coisa muito nova e muito revolucionária. Tem um potencial muito forte de transformação da sociedade. Vinte, trinta anos atrás, para você conseguir chegar na quantidade de pessoas que a gente chega hoje era uma dificuldade muito grande. Então, por um lado, você tem esse tempo real acelerando a forma como a gente recebe e produz as informações, mas também tem uma força, uma potência muito grande dessa possibilidade que está colocada. Com certeza o tempo real, o imediatismo, se tornou mais intenso. Os celulares ajudam muito nisso, a internet, a qualidade da conexão que vem aumentando, isso com certeza mudou radicalmente a forma como a gente produz e consome informação.

HM – Qual é sua opinião sobre esse imediatismo? Ele é bom ou ruim?
RV – Acho que tem vantagens e desvantagens, né? Mas no geral a possibilidade de poder distribuir de forma imediata, muitas vezes sem custos, um pensamento ou uma ideia é uma vantagem gigantesca da nossa era, que a gente não tinha nem como imaginar 5 ou 10 anos atrás. Isso é muito, muito importante e muito interessante, a gente não pode negar. Lógico que você tem muito conteúdo que é completamente descartável, que vai ser gerado naquele dia e que talvez nunca mais tenha relevância. O que a gente trabalha na Mídia Ninja é pra fazer com que essa produção que é feita em tempo real no celular tenha um valor histórico, artístico, que vai ser apreciado e que vai ser entendido e avaliado por muitos anos. Então as nossas transmissões ao vivo, por exemplo, estão expostas no IMS, que é o Instituto Moreira Salles. E elas estão expostas como obras de arte hoje.
A gente acha que essa fronteira tem de ser borrada. Que tudo que está sendo feito em tempo real é um acúmulo que vai sendo feito para um grande projeto também de documentação, que vai ser avaliado, pensado e degustado com mais calma em um futuro próximo.

HM – Em um mundo globalizado e com tanta tecnologia, como você acha que a comunicação pode usar a internet para produzir conteúdo com mais abrangência e qualidade?
RV – A gente acha que a internet é mais uma ferramenta. Lógico que ela tem uma centralidade muito grande hoje na dinâmica do mundo contemporâneo, mas ela é uma ferramenta e, com certeza, se o seu objetivo for produzir com abrangência e qualidade, você pode usá-la dessa maneira. A possibilidade de pesquisa que você tem na internet hoje é infinita. A capacidade de você chegar e conhecer pessoas, por exemplo, por redes sociais e, a partir disso, ter múltiplas fontes é muito interessante. Acho que você tem uma série de fatores na internet muito favorável como meio, como tecnologia, que possibilitam você aprofundar e aumentar a qualidade. Não é a internet que define se vai ter qualidade ou não. O que ela faz é gerar um fluxo onde muita coisa é produzida, e a gente tem de filtrar e ao mesmo tempo qualificar essas informações.
HM – Como o smartphone influencia sua vida como jornalista?
RV – Ele influencia em todos os meios, né? Essa possibilidade de a gente estar 24h conectado, sabendo do que está acontecendo, com o radar ligado é uma coisa que o jornalismo sempre teve como princípio. Só que isso antes significava ler um jornal inteiro de manhã ou ficar ligando para as suas fontes o dia inteiro. O smartphone condensa, concentra, esse fluxo, ou hiperfluxo, de uma maneira muito eficiente. E que ao mesmo tempo precisa-se tomar um cuidado para que ele seja de fato eficiente e não seja um excesso que vá te atrapalhar. Mas a gente em geral lida com muita tranquilidade com isso e faz praticamente tudo, o que não seria possível se não fosse a conexão 24h que os smartphones possibilitam. Acho que isso vale para o jornalismo, mas vale pra qualquer outra área que exista hoje. O jornalismo é uma das áreas que se beneficiam muito por conta de lidar com a informação.

HM – Como o smartphone funciona hoje como ferramenta na produção do trabalho?
RV – É a superferramenta! É a câmera fotográfica, a câmera de vídeo, o gravador de áudio, o bloco de notas e é ao mesmo tempo com o que você se comunica com quem está na base, com o que você manda as informações, edita as fotos, os vídeos, os textos, e é onde você consegue também difundir, publicar em várias redes sociais e fazer milhares de pessoas terem acesso àquela informação.
O smartphone é central e hoje ele é esta caixinha mágica que dá conta de fazer praticamente tudo. Todas as tarefas que um jornalista ou que um mídia livrista ou que um comunicador, independente ou não, necessita.