Capital mineira revive a febre dos karaokês em uma roupagem nova e jovem
Muita diversão com baixo custo. A receita é simples e está mudando a cara da noite de Belo Horizonte. Conhecida pelos botecos em cada esquina, a capital agora vê seus jovens migrarem para os karaokês que proliferam sem parar, sobretudo na região central da cidade. Munido do seu moto x4, o motolover Raul Nunnes topou dar um rolê num sábado por essa rede de entretenimento no seu dia mais quente.

Minutos antes das 20h, horário de abertura do Bar da Cácia, já é possível ver uma fila considerável nas escadas do estabelecimento localizado no tradicional bairro de Lourdes. Recebendo em média 400 pessoas por dia e com entrada a 5 Reais, a Cácia é o karaokê mais badalado de Belo Horizonte.
Enquanto os primeiros a entrar pedem bebidas e se acomodam nas mesas, a estreia da noite fica por conta da estudante Dayana Sena, de 22 anos, performando com entusiasmo a canção “Poker Face”, hit da diva pop Lady Gaga. Ainda sob os aplausos dos presentes e com a voz rouca, ela diz: “Aqui temos a oportunidade de brincar de ser artista.”
A parada de número 1 não poderia ter sido em outro lugar. Raul elege o Bar da Cácia como seu lugar preferido pra se divertir e o diferencia dos botecos e boates da cidade, onde a interação entre as pessoas é limitada a sua mesa ou ao seu círculo social: “Aqui tem muito mais interação. Todo mundo vira público um do outro, fora que é um lugar de muita diversidade. O público LGBTQ+ se sente muito bem”, completa Raul.

A febre dos karaokês
“Existimos há 8 anos, mas nos últimos dois, três anos, quando vários estabelecimentos fecharam, o nosso bar explodiu de gente, o que nos permitiu investir em reformas para o conforto da galera e admitir que as pessoas vêm aqui pelo karaokê”, diz Cácio Ferreira, gerente do local. E explodiu mesmo. Por muitas vezes a casa alcança lotação máxima e só resta ao público esperar ou mudar de karaokê.
É que logo ali do lado e há 22 anos na ativa, o Video-kê Casantiga é concorrente de muro da Cácia. O proprietário João Abib reconhece que recebe clientela excedente do Bar da Cácia, porém destaca que seu estabelecimento não cobra entrada, o que, segundo ele, chama muita gente. Abib diz que as ondas de karaokê durante essas duas décadas passavam rápido e que agora sente que esse tipo de entretenimento se consolidou. “É a nova balada”, afirma, lembrando que nos momentos de baixa o local se transformava em restaurante.
Muito frequentado por profissionais da música, o karaokê da Cris é um dos caçulas da cidade. Ele fica nos arredores do Mercado Distrital, um dos pontos turísticos mais importante de BH. A proprietária e operadora de som Maria Cristina destaca que seu karaokê tem tratamento acústico e bons equipamentos, o que atrai músicos pro local. O cantor e compositor Bruno César é um frequentador assíduo e endossa Cristina: “Aqui é mais intimista, o retorno do som é bom. Acabo escolhendo lados B’s dos artistas pra cantar”. Raul, entusiasta dos karaokês com clima de balada, se surpreende positivamente. “Gente, eu nem sabia que existiam karaokês desse perfil. Eu estou gostei muito daqui”.

No chamado “baixo centro” fica um dos fins de noite mais conhecidos pelos jovens de BH: o Inferninho. Aberto até as 6h da manhã, é visto pelos frequentadores como um “pós-rolê”. O sugestivo nome é uma oficialização de um antigo apelido popular dado ao local, que na década passada era um boteco quente e abafado, onde a atração era uma junkbox. Os donos, Wanderson e Mikon, investiram no karaokê há 2 anos. Apostando na entrada gratuita e cobrando apenas R$1,50 real por música, o sucesso veio rápido. Por sinal, ver os dois sócios cantando é sempre uma grande atração, só que é apenas para os fortes. Afinal, eles só pegam o microfone na hora que o sol nasce.

A música hors concours
“Evidências”, música de José Augusto e Paulo Sérgio Valle, gravada há 28 anos por Chitãozinho & Xororó é disparada a campeã das cantorias. “Essa eu coloco pelo menos 15 vezes por noite”, diz a operadora de som Cristiane Melo, do Bar da Cácia. Outras canções, de uma geração ainda mais antiga, como “Boate Azul” e “Porto Solidão” também são muito entoadas pelos jovens nascidos nos anos 90. Claro que eles revezam com os atuais hits de Marília Mendonça, Pabllo Vittar e Anitta.
Em todos os karaokês pedimos aos funcionários a lista das músicas mais cantadas. Uma constatação inusitada: em algumas pastas de música dos locais, “Faroeste Caboclo”, da Legião Urbana, estava rasurada ou proibida. Confira a lista:
Evidências – Chitãozinho & Xororó
50 reais – Naiara Azevedo
Medo Bobo – Maiara & Maraisa
Equalize – Pitty
Hollywood – Madonna
Porto Solidão – Jessé
Como os nossos pais – Elis Regina
Poker Face – Lady Gaga
Pintura Íntima – Kid Abelha
Abandonada por você – Fafá de Belém
Depois do Prazer – Só pra contrariar
Don’t speak – No Doubt
What’s up – 4 no blonds
Pra sempre vou te amar – Robinson Monteiro
Não deixe de ir:
Bar da Cácia – Rua Rio de Janeiro 1411 – Lourdes
Karaokê da Cris – Avenida Amazonas 890, 2º andar – Centro
Inferninho – Avenida Augusto de lima 566 – Centro
Videokê Casantiga – Rua Rio de Janeiro 1425 – Lourdes
Calabouço karaokê Bar – Rua Antônio de Albuquerque 380 – Funcionários
Bar do Fernando – Rua Goitacazes 501 – Centro
Por Marcus Vinícius Evaristo, colaborador #helloBH