Acompanhamos os preparativos de alguns blocos tradicionais da capital mineira
O Carnaval de Belo Horizonte vive uma grande transformação. Depois de décadas marcada pelo silêncio e pelas ruas vazias durante a semana de festa, recentemente a cidade se tornou um dos principais destinos dos foliões brasileiros e até de estrangeiros. Os blocos afros são um dos motores dessa multidão, e eles estão a todo vapor se preparando para o Carnaval de 2019.
No final do ano, nós fomos ao último ensaio aberto do Angola Janga, bloco que arrastou 150 mil pessoas pelo centro da capital durante a folia de 2018. Conhecido pela bateria afinada e pelos ótimos cantores, o bloco faz ensaios e oficinas abertas durante todo o ano.
De músicos profissionais a estreantes na percussão, todos podem participar. “Depois da retomada do Carnaval de BH, em 2009, sentimos falta da participação negra e de toda sua ancestralidade nas ruas. A bateria ser aberta e coletiva contribui para o senso de pertencimento”, diz a co-fundadora Nayara Garófalo, que ainda destaca a abertura do corpo de baile, em que dançarinos profissionais ou de primeira viagem podem desfilar.
Com repertório dos grupos Ilê ayê, Olodum, Filhos de Gandhy, entre outros, o Angola Janga irá apresentar seu quarto cortejo no domingo de Carnaval, concentrando-se no Viaduto de Santa Tereza. Até lá, quem já estiver no clima, poderá curtir os ensaios semanais que acontecem na Avenida dos Andradas, esquina com a rua dos Carijós.
A valorização da memória
O primeiro bloco afro do Carnaval de BH foi o Afoxé Ilê Odara, fundado no começo dos anos 1980 pela ialorixá Mãe Gigi e o bailarino Márcio Valeriano, tendo Gilberto Gil como padrinho. Após anos de marginalização, BH viu florescer diversos outros blocos de massa que buscam suas referências nas religiões de matriz africana.
Visitamos a festa de 5 anos do Afoxé Bandarerê, que nesse Carnaval homenageará o Orixá Ogum, um dos maiores patronos do Afoxé. O corpo de baile deles apresentou seus novos figurinos e muitas coreografias, além disso, foi lançado o novo hino do grupo. Misturando cânticos de domínio público e músicas autorais, o cortejo do Bandarerê acontece nas ladeiras do Concórdia, bairro de forte tradição afro-brasileira, com diversos terreiros, grupos de capoeira e sambas de roda. Eles também abrem o desfile das escolas de samba de BH, na Avenida Afonso Pena.
Outros blocos estavam presentes na festa de aniversário, como o Magia Negra, fundado pelo músico Camilo Gan, em 2013. Segundo Camilo, a intenção do bloco é combater o “feitiço” racista, exaltando os valores estéticos e intelectuais da cultura negra. O Magia Negra se destaca pelo repertório autoral e por ser um bloco itinerante, apresentando-se em locais diferentes em cada dia do Carnaval, como em Santa Tereza, Floresta, Centro e no próprio Concórdia.
Veja mais matérias sobre festas e eventos culturais em Belo Horizonte na aba HelloBH, dentro do projeto #Hellocidades.