Confira a nossa entrevista com o artista Vitor Rolim.
Para desvendar cada detalhe de um desenho de Vitor Rolim é preciso encará-lo por, no mínimo, algumas horas. Mesmo assim, alguns detalhes das obras mirabolantes do artista poderão escapar.
O mural na Lua Nova, produtora musical no bairro de Moema, em São Paulo, é exemplo disso. Em um espaço de mais ou menos 70 m², Vitor preencheu paredes e tetos com seus rabiscos à caneta, juntando Disney, Picasso, Keith Haring de um jeito muito particular. Foi lá também que o encontramos para um bate-papo sobre sua trajetória.
Obra de Vitor Rolim na produtora Lua Nova (foto: reprodução).
Inspirado pelo pai, engenheiro, Vitor descobriu sua paixão pelo desenho ainda muito cedo, mas demorou a encará-la como uma profissão. Antes, encontrou a publicidade e o universo criativo das agências, do qual faz parte até hoje. O grande trunfo do paulista foi descobrir que uma profissão não precisava anular a outra – pelo contrário, a vivência da publicidade poderia ajudar nas experiências com a arte.
“Por muitos anos eu vivi um embate interno, porque ainda dividia o trabalho e a vida pessoal. Quando eu comecei a entender que meu dia a dia numa agência poderia me ajudar a me tornar um artista melhor e mais organizado, a me sentar numa reunião e conseguir conversar com alguém interessado em comprar uma obra minha e até a dominar melhor as técnicas de criação, tudo ficou mais fácil. Descobri que muita gente à minha volta poderia me ajudar até com questões como ‘essa tinta pega?’”, ele conta.
Vitor foi uma das primeiras pessoas no Brasil a usar o Facebook para vender sua arte, e garante que só soube fazer isso porque estava em uma agência. “Até com a ambição que o artista tem que ter a publicidade me ajudou”, define. Essa ambição que o levou a valorizar o próprio trabalho e entender o real valor da sua obra.
Hoje, ele se define como “algo entre o desenhista e o artista”, que são ofícios distintos, mas complementares. É o lado desenhista que o leva a estudar minuciosamente a história e a mitologia para entender a origem das coisas. O lado artista garante a liberdade para seus trabalhos, e o permite transformar em arte aquilo que não existe. Quer um exemplo? “Um doce de Saturno. Não é algo que existe, mas eu posso trazer para o mundo real nas minhas obras”, explica.
O artista Vitor Rolim e uma de suas obras feitas com caneta (foto: reprodução).
Mesmo em pouco tempo de convivência, não é difícil perceber a mente inquieta que tem o artista. Compreendê-la já não é assim tão fácil, mas tudo fica mais claro ao observarmos algum quadro, mural ou parede que tenha recebido seus rabiscos. De alguma forma, Rolim consegue dar sentido a misturas que, aparentemente, não fazem sentido, quase que as organizando. O “quase” é importante, garantindo que tudo permaneça no caos cheio de boas ideias em que ele vive.