Grupo de maracatu serve de porta de entrada para o melhor da tradição popular pernambucana
No Recife, não é preciso esperar o Carnaval chegar para curtir maracatu, frevo, caboclinho e outras manifestações da cultura popular. Na Mariz e Barros, no Bairro do Recife, todas as sextas-feiras, de todos os meses do ano, a rua vira palco e recebe o maracatu do Traga a Vasilha, uma festa que já é antiga e, ainda hoje, segue surpreendendo. “Não somos um maracatu de raiz, mas apresentamos as nações tradicionais a quem antes não conhecia, ou não tinha acesso”, explica Bruno Uchôa, um dos idealizadores da festa. Conhecer uma coisa nova faz parte da proposta de #hellocidades, um projeto da Motorola que sugere um novo olhar sobre as cidades. Quem ainda não viu de perto o maracatu, tem aí uma oportunidade de se reconectar com o que há de melhor no Recife e viver novas experiências culturais riquíssimas dentro da cidade.
Em atividade há 17 anos, o Traga a Vasilha surgiu para juntar, de forma neutra e igualitária, pessoas que gostam de tocar maracatu e outros ritmos populares. Fundado em pleno ano 2000, já batucou pelo Poço da Panela, em Olinda, na Rua da Aurora e na Rua da Moeda até chegar, em 2006, no local atual. “Sempre procuramos por espaços que apresentassem história, com edificações e tradições antigas. Costumo dizer que o Traga a Vasilha é um ‘Maracatu Nações’. Em muitas ocasiões, inclusive, já chegamos a juntar cinco mestres de nações diversas em um mesmo palco”, explica Bruno, que é arquiteto e batuqueiro.
Com forte raiz na cultura negra, o Maracatu Nação, ou Maracatu de Baque Virado, é um dos mais antigos e tradicionais ritmos afro-brasileiros – os primeiros surgiram ainda no século XVIII, criados por escravos que habitavam em Pernambuco, e alguns seguem até hoje, como é o caso do Maracatu Nação Elefante, fundado em 15 de novembro de 1800, e o Maracatu Estrela Brilhante de Igarassu, fundado 1824.
Apesar de o Traga a Vasilha ter surgido já no século 21 e não ter essa tradição de raiz na sua história, o grupo continua valorizando a causa negra. Sempre que há oportunidade, os batuqueiros participam de movimentos que atuam nas questões ligadas a gênero e raça. O tema também está presente na música que o grupo considera seu hino: um maracatu do Aurora Africana de Jaboatão que fala sobre oito nações tradicionais.
“Todo mundo é bem-vindo no Traga a Vasilha e isso acabou aproximando as pessoas que nunca tiveram acesso aos mestres e às Nações tradicionais. Acabou que todos os maracatus, sem exceção, foram beneficiados com novos adeptos e maior representatividade perante as culturas locais. As pessoas vão para o nosso batuque na sexta à noite, conhecem os mestres e se aproximam no Maracatu Nação que mais gostam”, conta Uchôa. Dessa forma, o Traga a Vasilha funciona como uma porta de entrada para essa manifestação popular tão importante no Recife.
E o modelo já se espalha pelo Brasil. “Hoje o grupo existe em outros estados com a mesma intenção, só que com nomes diferentes, como é o caso do Tira o queijo, em Belo Horizonte, e do União do Baque Virado, no Rio de Janeiro. ‘Traga a vasilha’ se tornou uma ação, um ‘verbo’ que significa ‘juntar todos presentes’ para tocar”, comemora.
Para participar basta gostar de maracatu, ter uma vasilha (ou “arregar” no local), estar disposto e aberto a distribuir solidariedade e acrescentar ao momento e fazer com que, como disse o batuqueiro Bruno Uchôa, “tudo fique ‘zoando’ bem aos ouvidos”.
Os encontros – já se foram mais de 800! – acontecem a partir das 23h. Quando ouvir os tambores e as vozes cantando “Toda sexta-feira pra onde eu vou?/ Tragaavasilha tocar meu tambor!/ No baque de Parada e no baque Trovão/ Tragaavasilha arrasta a multidão!”, cante junto, dance e faça um vídeo para compartilhar com os amigos usando a hashtag #hellocidades. Reconecte-se com o Recife em hellomoto.com.br.