Como um esporte feminino de alto contato muda a vida de mulheres no Rio de Janeiro
Depois que Ana Clara Miranda assistiu ao filme Garota Fantástica, sua vida mudou. O longa estrelado por Ellen Page chegou aos cinemas em 2009 contando história de uma menina que não tinha uma grande paixão até conhecer o roller derby. Inspirada pela história da personagem Bliss Cavendar, Ana começou a praticar em 2012 por motivos parecidos e nunca mais parou. “Esse é um esporte muito empoderador. Eu estava sem fazer atividade física quando comecei e vejo o quanto o derby incentiva o início de uma vida de cuidado com o corpo, mas também com a mente”, diz. Numa região metropolitana com mais de 12 milhões de habitantes e com vocação para os esportes como o Rio de Janeiro, é de se espantar que pouquíssimas pessoas conheçam esse esporte.
Hoje, no Rio, menos de 50 pessoas praticam o roller derby de maneira sistemática, com treinos e competições frequentes. Todas essas pessoas, como Ana Clara, são mulheres. A única liga da cidade é a Sugar Loathe, a segunda mais antiga do Brasil, que reúne atualmente 40 sugars. O nome, que faz alusão ao doce, é claramente irônico. Para se dar bem no esporte, que é dinâmico, estratégico e de alto contato, é preciso ser durona. Mas, ao mesmo tempo, a liga se torna um espaço de acolhimento e empoderamento. Por que, então, o esporte é praticado por tão pouca gente? O #hellocidades, projeto da Motorola que incentiva uma nova relação entre a cidade e seus habitantes, ajuda a responder e a tentar mudar essa realidade.
A regra é clara?
Certamente não é pelo fato de o esporte ser uma novidade. Ele teve origem nos anos 1930 nos Estados Unidos, país que concentra até hoje o maior número de ligas. Ao longo da história, o roller derby virou um esporte quase exclusivamente feminino. Para jogar, cada equipe pode ter até 14 patinadoras, mas apenas cinco entram na pista a cada intervalo de dois minutos, totalizando uma hora de partida.
O jogo pega fogo com as blockers (bloqueadoras que formam uma “parede humana”), cuja função é impedir a jammer do time oponente de ultrapassá-las, numa espécie de corrida em círculos. Ao mesmo tempo, as blockers ajudam a jammer da sua equipe a ultrapassar as blockers adversárias. Tudo isso usando apenas o corpo. A cada ultrapassagem, a equipe marca um ponto e o time que pontuar mais, ganha. Não entendeu de primeira? Não tem problema. O melhor jeito de compreender o roller derby é, de fato, assistindo aos vídeos disponíveis na internet. Quem ainda associa o gênero feminino com fragilidade vai se surpreender. Positivamente, claro.
Guinevere Ribeiro tem 27 anos e faz parte das sugars há pouco mais de três meses. A jogadora comenta a atividade, que permite um novo olhar sobre a mulher no esporte. “Viver numa sociedade em que as mulheres muitas vezes são colocadas como rivais e quase sempre são incentivadas a atividades delicadas faz com que o Derby seja um espaço que proporciona algo bem diferente. A gente fica muito unida, porque o esporte só funciona se a equipe estiver integrada. Então, evolução pessoal é importante para todas”, diz.
A WFTDA (Women’s Flat Track Derby Association), associação reguladora do Derby, tem uma política de gênero bem clara, incentivando a participação de mulheres cis, transexuais, intersexuais e pessoas não binárias na composição do time. Além disso, todos os corpos são importantes na pista e, para cada posição, uma patinadora com características físicas diferentes pode ser mais adequada.
O roller derby também tem portas abertas para mulheres que não praticam atividades físicas regularmente, e até mesmo para as que não sabem patinar. O programa para freshmeats, praticantes iniciantes, prevê aulas em que tudo é ensinado do zero.
Enquanto isso, as mais experientes já competem na base do “ou tudo ou nada”. E não é sem esforço. A Sugar Loathe foi criada em 2010 e, desde então, as patinadoras já precisaram trocar o local dos treinos diversas vezes. O maior desafio é o financeiro. Mesmo que o esporte tenha ganhado alguma visibilidade na última década, patrocínio ou apoio privado ainda é uma utopia. Com a chegada do 6º Brasileirão de Roller Derby, na segunda quinzena de outubro, em Curitiba, as moças decidiram lançar uma campanha de financiamento coletivo para despesas com passagens, hospedagem e equipamentos no Catarse. É a única maneira de viabilizar o projeto. Apesar de a situação do esporte estar bem longe do ideal, encarar as adversidades pelo menos ajuda no amadurecimento das participantes.
Girl power
Aos 27 anos, Ana Clara Miranda é Diretora de Treinamento das sugars. Ela faz parte da equipe desde 2013 e está na Seleção Brasileira desde 2015. “Cada uma de nós tem sua própria batalha fora da pista, mas está todo mundo ali, com seus passados, sofrimentos, casos de abuso e preconceito, vidas tranquilas também, todos os tipos de mulher, todos os tipos de corpos, mais gordos, mais magros, de todos os gêneros e sexualidades”, diz. Esta rede de apoio mútuo faz com que a relação das mulheres com a cidade também se modifique. Com mais autoestima e mais força física, elas se sentem mais independentes para explorar o lugar em que vivem.
Quem passar pela Vila Olímpica do Encantado no sábado, das 11h às 15h, ou pelos galpões em frente ao Engenhão, das 19h30 às 22h às terças e quartas-feiras, pode assistir aos treinos. Basta mandar um e-mail para [email protected] e avisar. Agora, as mulheres que quiserem calçar os patins e ir para a batalha devem ficar ligadas na abertura do recrutamento, na página do Facebook Sugar Loathe Roller Derby.
Assista aos treinos, apoie, faça parte do time e compartilhe esse momento usando a hashtag #hellocidades para se conectar à plataforma da Motorola que incentiva a reconexão pessoas através das cidades com o uso consciente da tecnologia. Para saber mais, acesse o hub hellomoto.com.br. Divirta-se!