#hellocidades
hellobh

Sinceridade e ironia no som da Geração Perdida


Escrito por Motorola

Coletivo de bandas e músicos independentes de Belo Horizonte cantam sobre sentimentos e vivências na cidade

Belo Horizonte é um ovo podre, com um boteco em cada esquina e um conhecido em cada boteco”, entoa Pedro Flores na faixa que leva o nome da capital mineira. O verso, que para muitos pode soar agressivo, é bem representativo da relação que músicos da Geração Perdida têm com a cidade. “Eu vejo uma cidade que tem muito talento, muita gente boa, mas com um público muito receoso com novidade, com coisa diferente, muito conservador”, critica Pedro.

Pode-se dizer que esse sentimento de não-pertencimento, de certa forma, serviu como ponto de união entre os artistas do coletivo independente, boa parte vindos de outros lugares do estado. Para além da referência óbvia à geração literária que viveu o período da Grande Depressão, a alcunha diz muito sobre o contexto em que a Geração Perdida surgiu: “Era um nome de contestação no início. Quando o pessoal chegou em BH e montou suas bandas, eles não conseguiam entrar na cena local, os nichos eram muito fechados, era muito difícil. A ideia de criar o selo foi também de unir forças e fazer o som cair no ouvido de todo mundo. Era a galera perdida que não estava integrada na cena e que teve que achar o seu espaço”, explica Marcus Vinicius Evaristo, integrante da Aldan.

(Pedro Flores, Marcus Vinicius Evaristo [Aldan] e Fernando Motta, membros do coletivo Geração Perdida, em bate-papo descontraído para o HelloCidades)

Vitor Brauer, mineiro de Governador Valadares, alavancou o movimento, em 2012, com a banda Lupe de Lupe. Na canção “Há Algo de Podre no Reino de Minas Gerais”, uma das principais composições do grupo, ele declama em tom de ironia: “E se dizem que não há amor em SP, em BH nós o temos de sobra, mas de que importa esse amor mediano, esse amor que não convence ninguém”.

 

Influências

Se no começo o coletivo era identificado com rock, essencialmente aquele mais melancólico e introspectivo, hoje é possível encontrar uma variedade maior de gêneros nos trabalhos das bandas e artistas, do rap inusitado feito por Paola Rodrigues à música eletrônico-experimental do Sentidor. “Todo mundo é livre para fazer o som que quiser, mas uma coisa que amarra bem são as letras e o lance da sinceridade. Todas as bandas e artistas cantam em português e tentam colocar uma honestidade na música. A gente faz o que a gente gosta, o que a gente acredita”, ressalta Pedro, que flerta com a viola caipira em seu último disco.

(Pedro Flores nos mostra uma das principais faixas do novo álbum, intitulada “Céu Azul”)

Uma unanimidade entre os integrantes da Geração Perdida é o Clube da Esquina, movimento musical mineiro surgido na década de 1960 e encabeçado por Milton Nascimento e os irmãos Borges. O paralelo é inevitável, afinal tratava-se de um grupo de amigos que se juntaram para fazer um som com identidade própria. “Se formos falar de influência da música mineira nos nossos trabalhos, não tem como não falar de Clube da Esquina. Todo mundo admira e respeita os caras, isso eu posso falar com tranquilidade”, afirma Fernando Motta, que aposta numa sonoridade mais folk.

“As bandas underground do começo dos anos 2000, como Constantina e Retórica, também nos influenciaram bastante, principalmente em termos de atitude, do ‘faça você mesmo’, completa Pedro.

Na Geração Perdida, tudo acontece da maneira mais orgânica possível, inclusive o apoio mútuo que os integrantes se dão. Não raro, acontecem participações nas bandas, clipes e álbuns uns dos outros — Jonathan Tadeu, por exemplo, fez todos os clipes da Aldan, e João Carvalho (Sentidor), masterizou o último álbum de Pedro Flores. “Nós temos uma identificação muito forte, tanto de gostos e vivências quanto de estética”, completa Marcus.

Shows

Entre abril e agosto do ano passado, o coletivo deu uma grande guinada com uma turnê que passou por 21 estados brasileiros, do Acre ao Rio Grande do Sul. Foram 54 shows ao todo. “Isso de fazer acontecer deixou frutos no Brasil inteiro. É legal ver que tem uma galera nova em outros cantos começando a produzir e tocar numa rede de gestão parecida com a nossa. Acho que acaba sendo um incentivo, saca? Eles veem a gente e pensam: ‘por que eu não posso fazer também?'”

Em BH, a Geração Perdida promove um encontro mensal na Casa do Jornalista, que abriga a sede do Sindicato e também um espaço cultural multiuso. Normalmente uma banda do selo e uma banda convidada fazem shows que incentivam a integração entre as diferentes cenas locais.

Para quem quiser conhecer um pouco mais do trabalho dos 13 artistas/bandas que fazem parte da Geração Perdida atualmente, pedimos para Pedro e Marcus criarem uma playlist com as músicas mais representativas de cada um. Play!

Continue acompanhando tudo o que acontece no cenário da música mineira aqui no #hellocidades e não deixe de compartilhar suas experiências musicais pela cidade com a hashtag #helloBH. Até a próxima!

POSTS RELACIONADOS

motostyle
arte

Dicas para ser bem-sucedido na Campus Party

motostyle
geek

Meio do ano: 5 aplicativos para quem ainda não organizou a vida