Conversamos com o coletivo que utiliza sua arte para combater preconceitos na capital mineira
Nas grandes metrópoles como Belo Horizonte, o teatro cumpre um importante papel de quebrar com o cinza do cotidiano, recriando a vida através da arte. O lúdico traz outro olhar sobre a realidade, ressaltando elementos que antes passavam despercebidos ou eram ignorados.
O coletivo Toda Deseo é um exemplo: através de suas apresentações e espetáculos eles levam o público a refletir sobre problemas sociais da cidade que precisam de mais evidência, levantando questionamentos e combatendo preconceitos através do diálogo.
Nós do Hello Moto conversamos com esse coletivo que, com ousadia e criatividade, está movimentando a cena teatral da capital mineira.
O desejo que nos move
Surgido em 2013, a Toda Deseo se define como um grupo de teatro e performance de Belo Horizonte, que se uniu a partir do desejo de um grupo de “amigues”* que queriam fazer teatro abordando as questões que envolve o universo das LGBTs.

O ator David Maurity conta que o coletivo é formado por uma maioria de gays e lésbicas: “Participam da Toda Deseo, Ju Abreu, Érica Hoffmann, Ronny Stevens, Akner Gustavson, Thales Brener, Rafael Lucas, David Maurity. O coletivo também conta com as colaborações das atrizes Idylla Silmarovi e a travesti mais babadeira de Belo Horizonte, Nickary Aycker”.
Movidos pela necessidade de terem mais voz e espaço na cena teatral, eles criaram o grupo e deram o nome de Toda Deseo, em homenagem à produtora de filmes de Pedro Almodóvar, cineasta que lhes é referência. “A gente acredita que esse nome diz dessa vontade de um grupo de ‘amigues’ (sic) que se juntou para trabalhar e pensar o teatro a partir dessas questões de gênero”.
Pelas ruas de Belo Horizonte

A estreia do coletivo aconteceu com o Espetáculo-Festa: No Soy un Maricón, que através da arte do transformismo levantava discussões sobre as diferentes identidades de gênero. Formada por três “pocket shows”, a discotecagem da Dj Confusa (Ju Abreu) agitava os espectadores entre uma apresentação e outra, rompendo com separação do teatro tradicional entre artistas e público ao convidar todos a dançarem.

Além dos espetáculos, o coletivo também faz intervenções artísticas explorando os mais diferentes espaços. “Desde 2013 a gente realiza ações que damos o nome de “Fechações”, que são intervenções cênico-musicais que podemos fazer em festas e eventos de toda ordem. É o famoso close!”.
O coletivo apresentou, em 2015, a performance Corpos que não Importam no projeto Noturnos no Museu e também começou a organizar o Campeonato Interdrag de Gaymada, competição realizada em espaços públicos de Belo Horizonte e que mistura o tradicional jogo de queimada com performances de Drag Queens. Em 2016, o coletivo estreou dois no espetáculos, o Nossa Senhora e SER – Experimento para tempos sombrios.

Para aproximar mais as pessoas de suas discussões e quebrar com os paradigmas da velha forma de se fazer teatro, a Toda Deseo não se limita aos palcos dos teatros e em diversas oportunidades leva seus espetáculos para as ruas e praças públicas, fundindo sua arte com a cidade e com a vida de seus habitantes.
“Os espetáculos têm uma relação com a cidade no sentido de que, de alguma maneira, eles acompanham o movimento e a dinâmica de Belo Horizonte, no que tange ao pensamento sobre a cidade, as discussões propostas no ambiente público etc”, reflete David.

Sobre os efeitos gerados ao levar suas atrações para as ruas, o ator conclui: “coletivamente podemos criar espaços dentro da própria cidade, que alterem esse estado de apatia vigente, onde os preconceitos são confrontados com diálogo, onde é possível viver e conviver sendo aquilo que se quer ser”.
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*Na linguagem inclusiva corrente na internet, o “e” é utilizado no final das palavras para marcar o gênero neutro, nem feminino nem masculino.