Com feiras e eventos, artistas levam público do digital para o físico
Imagine que você é um ilustrador e quer ver seus desenhos sendo impressos e circulando por aí. O que você faz? Criar uma página no facebook para divulgar a sua arte e conseguir apoio pode parecer um bom começo, mas e se isso estivesse acontecendo com você antes dos anos 2000, quando praticamente não existia internet?
Foi dessa necessidade de construir redes e canais de divulgação para diversos tipos de arte gráfica que surgiram, em Porto Alegre, zines, feiras e exposições que existem até hoje. Nós do Hello Moto conversamos com artistas de diferentes gerações para saber como a tecnologia tem renovado e fortalecido essa cena.
A arte pela cidade
A relação da cidade com a produção de arte gráfica já é bastante antiga. Expressão disso são os inúmeros cartunistas e quadrinhistas que vieram de Porto Alegre e ganharam o mundo com o seu talento, além da famosa Parada Gráfica, que acontece anualmente no Museu do Trabalho, e a feira Papelera.
Cada vez mais unidos graças às possibilidades de conexões trazidas pelo acesso à internet, os artistas Wagner Mello, Adri A., Anelise De Carli e Grazi Fonseca, idealizaram e organizaram, em 2017, uma feira especial para fazer a arte se deslocar pelos mais diversos cantos da cidade, a A6 feira gráfica.
“Queríamos fazer uma feira nômade, ou seja, que pudesse transitar entre os mais diferentes lugares e públicos e que não cobrasse inscrição dos expositores, isso sempre foi algo imprescindível para nós”, relatam.
Em menos de dois anos, nove edições da A6 feira gráfica já foram organizadas, passando por importantes locais de Porto Alegre, como o movimentado Viaduto do Brooklyn, a Casa Estudantil Universitária de Porto Alegre (CEUPA), o Ateliê O Bestiário, o Café Cartum, a Casa Musgo, a Galeria Hipotética e a Fundação Iberê Camargo.
Cada evento é produzido e organizado por um artista diferente que, junto com os quatro criadores e mais outros dois convidados, se responsabiliza pela curadoria dos expositores, do local e pela identidade visual daquela edição. “Nossa trajetória ainda é curta, mas ficamos muito contentes com tudo o que já aconteceu e com o público que tem chegado, cada vez mais interessado.”
Analógico versus digital: a opinião dos artistas
Mesmo dominando as plataformas analógicas, Wagner Mello não deixa de recorrer às ferramentas tecnológicas quando necessário: “Faço ilustrações, já pintei alguns murais, mas gosto mesmo é de papel, meu processo é super analógico, gosto de recorte, colagem, desenhar com nanquim, depois, dependendo do projeto, faço pequenas edições no computador”.
Para o artista, o universo digital proporciona uma ampliação de horizontes, uma vez que a divulgação nas redes sociais pode alcançar pessoas para além daquelas que frequentam as feiras e levá-las a comprar pela internet.
Sobre a relação da arte gráfica com os smartphones, Wagner relata: “Já fiz edições de imagem no celular, que foram compiladas num zine, e para divulgação então, nem se fala, é imprescindível”.
Lídia Brancher, artista que já organizou uma das edições da A6, conta que conheceu o movimento das artes gráficas em 2005, através do contato que teve com a arte de rua.
“Na época comecei a procurar meios para aprimorar meu trabalho: oficinas de gravura, cursos sobre design, também cai de cabeça na pintura nas ruas que me levaram a conhecer pessoas de todo país e entrar em uma cena das artes na minha cidade.”
Com seu smartphone, Lídia se comunica com o público, fotografa e divulga suas obras no Instagram, mas não abre mão dos encontros e trocas no mundo real: “O universo digital ajuda muito, mas o contato presencial é o que traz o reconhecimento e faz a circulação ir além das telas”.
O famoso cartunista Rafael Corrêa começou a desenhar muito cedo, com 10 anos, e aos 14 teve sua primeira tirinha publicada em um jornal. “Sou do interior do RS e nos anos 80 não existiam cursos nem se imaginava alguém trabalhando sério com esta arte. Agora as oportunidades são muito maiores, existem vários cursos e feiras para comercializar a produção”, conta.
Atualmente Rafael está prestes a publicar uma coletânea com cartuns feitos por ele nos últimos 10 anos, o livro Até Aqui Tudo Bem, que foi viabilizado através de financiamento coletivo no Catarse, graças a uma forte campanha feita nas redes sociais.
“Para pesquisa e conhecer outros artistas a tecnologia é fundamental. Hoje podemos mostrar nosso trabalho para todo o mundo, literalmente. E quanto mais seu trabalho é conhecido virtualmente, mais fácil de viabilizar um projeto como um crowdfunding de impressão de um livro, por exemplo”.
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